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domingo, 22 de maio de 2011

A Júlia


Rosa e Azul (As meninas de Caven D´Anvers)-Renoir

Em 2007 foi quando saí de casa e vim para Ribeirão.Sair de casa é como um segundo corte do cordão umbilical e  a segunda vez  dói mais porque é você quem decide cortar para renascer para a maturidade. Saí e lá fui eu respirar sozinha com meu pobre pulmão asmático.Deixei o cachorro, a casa, os amigos, meus pais, meus irmãos, minhas irmãs e entre elas a Júlia, minha irmã caçula.

A Júlia é uma estrela de alegria e espontaneidade que todo caçula carregar por ter o posto de poder ser criança por mais tempo na família.Ela é do tipo de pessoa que facilmente te invade e te desconserta de você mesmo, te fazendo rir e rindo ainda mais de você.O olhar dela parece estar sempre procurando o lado engraçado e bizarro das coisas e nas pessoas.A Júlia guarda também uma carência e uma densidade, profundas e secretas, que se revelam com o pedido de carinho antes de dormir, no meio de uma conversa que se estende ao longo da noite, dentro de um quarto escuro e de portas fechadas.

Eu me lembro que quando ia pra casa nos finais de semana tentava ficar o tanto que eu podia junto dela. Ela adormecia me pedindo pra ficar e pela de manhã minha mãe me pedia para ir embora sem me despedir, assim ela não acordava e não chorava. Eu chorava escondida e silenciosa eu saía sem me despedir, com o coração partido.

E assim por um tempo foi: Todo final de semana, aquela mesma ida, aquela mesma volta, aquela mesma paisagem nas viagens de ônibus (que só se alternava quando eu sentava na poltrona da outra fileira), aquela mesma dor.Até descobrir um dia que, sempre que ia e voltava, eu já não era mais a mesma.

Chegava em Ribeirão às segundas-feiras.Fazia parte do trote da faculdade usar uma camiseta de cada cor na semana e  justo na segunda era o dia do azul.Eu me vestia de azul e o azul se vestia em mim.

E foi assim que nasceu esse poema:

Blues
Às vezes me visto assim de azul
E todas as suas nuances desfazem em mim
O outono na cadência de maio
Explode sua natureza em cores  no Céu
De manhãzinha as cores se escondem
No choro de um azul bebê
Eu passo silenciosa
Para não acordá-la
Assim ela não chora
Assim ela não me vê
Tem dias que eu me pego azul clarinha, azul tristinha
Eu choro escondida
E lá no fundo azul do Mar
Vou de mansinho, me azulo marinho,marinho
Marinheira eu sou
Então tiro minhas nadadeiras aladas do meu bolso
E vôo sozinha num mergulho infinito
Num mar de águas que me conduzem à mim mesma
Pego meu pó de lirismo mágico e azulaido em alma
Tudo o que existe
É quando tudo torna a ganhar vida
Conversando comigo nos meus devaneios
(E até mesmo no meu tempo regulamentar)
Mas tem hora que tudo explode em sete cores
Numa dança espetacular
Azul-crinando como numa intempérie
O Céu do meu coração
Azul
É que essa minha condição humana me traz esses azuis
Dos quais nunca estarei salva
Me quebrando uns azulejos do peito
e azulindo outro novos.
Então eu me lembro
Das suas incontáveis tonalidades
E minha alma se acalenta outra vez.


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