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segunda-feira, 27 de dezembro de 2010



                                                Feito eu Perdida em pensamento sobre o meu cavalo.

Porquinha-da-Índia



            Quando eu tinha seis anos
                 Ganhei um porquinho-da-índia.
              Que dor de coração me dava
                   Porque o bichinho só queria estar debaixo do fogão!
             Levava ele prá sala
                    Pra os lugares mais bonitos mais limpinhos
                 Ele não gostava:
       Queria era estar debaixo do fogão.
             Não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas...
        - O meu porquinho-da-índia foi minha primeira namorada.

             Manuel Bandeira


Nem sempre a gente entende o que a gente sente, e muito menos sabemos explicar para os outros o que sentimos.Em uma dessas confusões, achei um poema que explicasse meu funcionamento de vez em quando.
Tem vezes que a minha timidez toma conta de mim, seja numa apresentação, seja no meio de muitas pessoas, ou quando eu estou perto de muita gente que eu não conheço, às vezes  eu sinto vontade de sair correndo, desaparecer, entrar debaixo de um fogão, ficar escondidinha, no escurinho quentinho.Digo que quero estar como o porquinho-da-índia do Manuel Bandeira,(que acaba sendo uma forma de disfarçar uma situação constrangedora de forma lírica)Não que ficar sozinha seja assim tão confortável para mim, mesmo porque eu sou extremamente carente e a solidão me dói muitas vezes.Penso que ficar sozinha seja mais refúgio que um conforto.

Quando com alguém, muitas vezes já me vi fazendo pouco caso de ternurinhas e quando sozinha, sentia falta delas.Como aquela estorinha do Schopenhauer, dos porcos espinhos:Nas noites frias de inverno, eles ficam com frio e se juntam para se esquentar, porque necessitam de calor, de ligação.Então eles se juntam e se espetam por conta dos espinhos.E é dolorido.E para evitar a dor, eles se isolam.E ficam com frio.E se aproximam de novo.E se espetam.E se isolam.

Schopenhauer falava que essa era a dança da intimidade que define os nossos relacionamentos com as pessoas que a gente encontra.Ele não tinha um remédio pra isso, falava que era da natureza humana, mas sugeria que, aqueles porcos espinhos que conseguissem gerar seu próprio calor, eram capazes de manter uma distância segura, sem necessariamente precisar se isolar.

Penso que eu também tenho que gerar um calor interno, minha identidade, meu amor próprio, meu próprio senso de humanidade, mas por enquanto...
Ainda acho que sou um bichinho. 
:~

Landscape of Wargemont

                                                    Landscape of Wargemont, de Renoir.

Ele é, se não o meu quadro  favorito, um dos.Não que eu seja uma grande apreciadora de arte, eu realmente conheço muito pouco, embora ela muitas vezes me pegue e me invada de surpresa.

O quadro é grande e mede 80.6 x 100 cm e a única informação que tenho é que Renoir pintou este quadro quando numa visita ao sul da França. A primeira vez que nos encontramos, foi quando fui à uma exposição de Renoir, no Philadelphia Art Museum, na Filadélfia.Era inverno de 2008.Lembro me de ter ficado pelo menos uns 20 minutos olhando para ele.Na época em que me deparei e me encantei com o quadro, foi no meio de caminho solitário, em que viajava pela primeira vez sozinha, no exterior e viajaria dali uns meses sem rumo à procura de alguma coisa (que hoje eu posso dizer que era de mim mesma).

Sinto que esse quadro me transporta pra dentro dele, numa sensação de movimento, de vida.Sim, é vivo! Perceba que ao olhá-lo, o seu olhar é carregado pelo caminho central, as folhas parecem se mexer e você consegue dizer em que sentido o vento está soprando... dá para até perceber que  tem uma eletricidade no ar, uma selvageria, um ventania, daquelas que dá antes de uma grande tempestade, como as chuvas de verão.Eu até consigo ouvir o vento uivando.

A pintura, sem saber explicar, me encanta por despertar uma certa sinestesia, uma fusão dos meus sentimentos com o convite de sensações para o qual o quadro me desperta.Gosto da dramaticidade das linhas, da sensação de movimento e dos tons de roxo, preto ocre e verde, do caminho sinuoso, meu e do quadro, que se finda no nada, mas que ainda mantém a idéia do horizonte e de esperança quando, no fim do quadro, o Céu ilumina de azul um ponto escuro ao fim.

Hoje, distante do que sentia, penso que me identifiquei com o quadro pois estava como o quadro:fluida, sem contornos definidos, volúvel. O quadro é uma poesia da própria vida, dos caminho sinuosos e cheio de curvas pelos quais percorremos, nesse movimento eterno de “não-cessar”, da selvageria da vida, desse caminhar sinuoso, de angústia nas pinceladas de roxo e de preto, e a oferta com gratidão de ocre triste, mas ainda sim amarelo e com delicadeza, como se Deus carregasse nas mãos um punhado de esperança no fim de um caminho tortuoso e revelasse à você, depois de transpor um horizonte, um mistério divino de cor azul.

sábado, 4 de dezembro de 2010

A curva

Quando me vejo pensando na morte, a única coisa que me conforta ao pensar é que a vida talvez seja uma passagem, mesmo.Que ela é breve, e que então por isso, não adianta me apegar à muitas coisas.
Falamos sempre em apego material, mas hoje falo aqui do apego à outras coisas.O apego à dor.O apego à tristeza, às dificuldade,à raiva, ao futuro, à glória, ao sucesso,às expectativas, enfim, às falsas idéias sobre nós mesmos e sobre a vida.Penso que o apego gera uma certa vibração mental, ao qual ficamos presos e no qual construímos nosso mundo, escravizando a nós mesmos.Esses pensamentos e sentimentos existem e eles me causam muito sofrimento, por conta da minha simples e inexorável condição humana. O sofrimento por natureza é genuinamente egoísta, ele dói mesmo naquele ponto e só.Ele grita, corrói, extravasando toda a nossa dor em lágrimas. 


Por muito tempo, um grito de dor, foi a única voz que eu fui capaz de ouvir.Mas aos poucos tenho ouvido outras vozes no meu inteiror, e na cura da minha dor, a tarefa que tenho exercido é escutar essas outras vozes.A voz da coragem, a voz da luta e da força.E essas vozes tem de ser escavadas nos escombros das nossas almas nas mais corajosas expedições internas. 

Penso que é por aí que o amor tem entrado em mim, tenho deixado uma luz entrar.Tenho me permitido ser afetada e tenho afetado o outro com o melhor que tenho de mim, e essa tem sido a forma como eu tenho existido no mundo.Sei que muitas vezes o melhor de mim é muito pouco, ainda que verdadeiro; sendo tudo o que eu tenho a oferecer. 
A emoção tem estado presente nos meu relacionamento.Isso me faz sentir renascida a cada instante. Tenho olhado todo dia, esse mesmo mundo, as mesmas pessoas, com olhos diferentes.Os meus dias tem sido mais sagrados


Sinto a vida me convidando a aceitar seus desígnios com o meu mais honrado consentimento. Quero um dia poder dizer com propriedade que, de fato, aceitei à tal convite.
Por fim, cabe e está ao alcance de todos nós acreditarmos que podemos sim, ser uma imensidão, um infinito de possibilidades, enxergarmos a vida num espectro maior, sendo capitães de nossas almas.Temos todos dentro de nós uma semente, a semente da potência, de que somos capazes e que o mundo precisa de nós.Cabe a nós cultivarmos e batalharmos por isso, com a força que brota de uma fonte que reside no fundo dos nosso corações.A força que para mim, é mais poderosa que existe no universo.Essa força benevolente que me une comigo e com você agora, em comunhão, chamada Amor.

Eu - parto

Falar para mim tem sido um parto, mas escrever pode ser que seja dar a luz. Dar a luz à essa angústia que  nasce em palavras, ao mesmo tempo que dá rumo à qualquer coisa que vem, mas que vem com uma certa urgência em simplesmente poder ser e existir num bocado de linhas, num fundo branco, num espaço onde seja permitido um certo fluxo de consciência que dá vida à isso que vem e onde não tem.Vou explicar.


Ando numa dinâmica onde eu ando só observando.Só e observando.São os olhares das pessoas, o jeito como elas gesticulam, o tom de voz, o que falam e como falam, o jeito de piscar e de sobra, a sombra e por vezes, a luz também.A minha e a das pessoas.Esse tem sido o meu diálogo e a minha interação com o mundo.Quieta e presente, à minha maneira.Verbalizar tem sido um grande esforço para mim.Tem requerido muita energia.
Acho que assimilar uma perda requer muito de nós, requer uma reorganização interna muito grande, muito pensamento e sentimento trabalhando ali, diaria e cautelosamente, em algo que desabou e na dor que ficou.Como o trabalho de um ourives, que vem lapidar os nossos olhos, para que possamos enxergar através de um prisma maior e mais profundo, essa mesma vida, esse mesmo mundo, em novas cores e perspectivas.Um trabalho minucioso, onde a vida pede da gente coragem, um escancarar do peito, naquela parte mais ferida e exposta.Uma reação.


O que eu tenho dito é: Eu sou toda sua, e essa aqui é o que eu posso te oferecer querida, Vida.Com resignação.Talvez eu possa adicionar aí uma revolta, uma inquietação resignada, também, e com legitimidade.Resignado no sentindo de que eu não posso mudar e que eu aceito, mas junto, tem esse movimento em querer descobrir o que há por trás da rotina, essa coisa escondida, de saber que a vida não é só isso que eu estou experimentando, de querer algo maior, de ter alguma coisa a mais, esse valor escondido atrás desse sentimento de que a vida me escorre pelas mãos.


Eu quero sim essa vida de significado, que valha a pena.E de fato, acho que isso reside no trabalho com o outro, na caridade, no amor, na humildade.Nas trocas.Em afetar e ser afetado.A gente pode ser para o mundo aquilo que ele precisa de nós.Essa vontade é grande sim, por isso a angústia, essa inquietação, esse querer descobrir o mundo, esse querer me descobrir também.Mas fiz um pacto honrado com a angústia.Ela sempre estará lá e será um motor propulsor dessa minha vontade em ser útil.


Junto à esse processo, entendi a importância de se aquietar a mente, também.Isso é algo importante nessa busca.A confusão mental percorre caminhos tortuosos, o que nos traz muita ansiedade, sentimento de incapacidade, mentiras.A mente mente, bem banal mas bem verdadeiro.(Ela nos projeta num futuro que nunca existirá.)
Estar tranquilo na mente é estar mais perto do coração.E é o coração que nos diz para onde ir.E é por isso que eu estou tão feliz em poder ir para a meditação amanhã.Porque todo esse exercício não é assim, tão fácil.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Fecundação

A partir da necessidade de exprimir-se o que há por dentro, de existir no mundo, de concretizar-se o espírito... Um pensamentozóide fecundou um coraçóvulo.


Eis a concepção,


De um


Blog.