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quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Dijesus


“Tudo na vida pode ser relativo, menos Deus e a fome.”- Dom Pedro Casaldáliga

Eu ouvi recentemente essa frase num documentário sobre Dom Pedro Casaldáliga  - "E o verbo se fez carne",  antes de pegar esse menino pretinho pra mim. Ele é preto e branco, como a sua vida e a fome, sem relativizar. Ele tem olhos grandes de jabuticaba, ranho escorrendo pelo nariz e parece não ter força nem para chorar direito. Seu rostinho é de tanta dor que basta, para que eu ouça seu choro estridente.
 Quando o sol incide sobre ele sem misericórdia, ele nem sabe quem é.Se a sombra ou se ele mesmo.Só sabe que existe porque sente fome. E porque dói. Muito. Deve ter nascido em algum país da mãe África, a mãe mais triste desse mundo. Sua segunda mãe deve ter morrido de AIDS ou fome, ou pode ser que tenha sido vendida para uma outra tribo, ou mesmo, morrido em algum outro parto.
Foi quando ele olhou pra mim, com tanta súplica, que eu arranquei-o da revista.Tive pegá-lo pra mim. Batizei-o de Dijesus, sem pai mas com mãe.Sua terceira mãe sou eu, e carrego esse menino preto na bolsa comigo, chorando de dor para onde quer que eu vá. Tudo o que pude fazer para o garoto foi esquentá-lo na minha bolsa quentinha de veludo por dentro onde eu carrego também todos os meus sonhos.

Por mais que ele chore, estará quentinho e acompanhado.Eu não vou me esquecer dele. E agora ele está comigo. Quem sabe eu não olhe pra ele e lembre sempre que existe uma dor, muito maior que a minha. Eu, nessa vida tão mesquinha, preciso da existência do Dijesus para me lembrar de lutar sempre.


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